Uma tentativa de depor o ditador parece ter falhado. Tente novamente.
O dia 30 de abril amanheceu promissor para a Venezuela. Juan
Guaidó, reconhecido como presidente interino do país por muitas democracias e
milhões de venezuelanos, apareceu do lado de fora de uma base da força aérea em
Caracas, ladeada por guardas nacionais, para declarar que o fim da ditadura era
iminente. Ao lado dele estava um líder da oposição, Leopoldo López, que de
algum modo fora libertado da prisão domiciliar. Sua presença e a dos guardas
sugeriam que as forças de segurança da Venezuela estavam finalmente prontas
para retirar seu apoio a Nicolás Maduro, que governou seu país de forma
catastrófica e brutal nos últimos seis anos.
Assim começaram dois dias de boatos, intrigas e violências.
De fato o regime ainda estava no comando e os generais estavam proclamando sua
lealdade à ele. Maduro apareceu na televisão para declarar que a "aventura golpista fracassara”.
No entanto, os eventos desta semana revelam que sua
influência no poder é mais fraca do que ele afirma. Guaidó, os Estados Unidos,
que o apóiam, e os comandantes do aparato de segurança da Venezuela devem
trabalhar juntos para pôr um ponto final na “última ditadura da América do
Sul”.
Esse pode ter sido o plano. John Bolton, assessor de
segurança nacional dos Estados Unidos, disse, no dia 30 de abril, que altos
funcionários do regime, incluindo o ministro da Defesa e o comandante da guarda
presidencial, concordaram em depôr Maduro e transferir o poder para Guaidó.
Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, mais tarde insistiu que Maduro estava
preocupado o suficiente para ter um avião esperando para levá-lo a Havana, mas
foi convencido a permanecer no Palácio Miraflores por agentes russos.
Quão verdadeiras são essas afirmações e o que deu errado é
incerto. Um post numa mídia social atribuída ao general encarregado do serviço
de inteligência da Venezuela, que deixou abruptamente seu emprego, deu apoio à
afirmação de Bolton dizendo que pessoas próximas a Maduro estavam negociando
nas suas costas. Alguns jornais dizem que o plano era retirá-lo no dia 2 de
maio, mas que Guaidó agiu cedo, talvez porque Maduro soubesse do plano.
A tentativa falha, se é isso, mostra o caminho a seguir.
Tanto Guaidó quanto o governo de Donald Trump precisarão induzir os altos
escalões a mudar de lado, deixando claro que há um papel para eles em uma
Venezuela democrática. O exército desistiu do poder em 1958 e ajudou a liderar
o governo civil. A oposição e os soldados de hoje poderiam cooperar de maneira
semelhante. Embora Maduro e seus seguidores mais próximos precisem ir, Guaidó
deveria receber líderes menos contaminados do regime chavista em um governo de
transição, o que aliviaria a crise humanitária enquanto se preparava para
eleições livres. Isso ainda pode levar muitos meses.
O governo Trump colocou a Venezuela, Cuba e a Nicarágua em
uma “troika da tirania”. Parece tão ansioso para destruir o regime comunista de
60 anos de Cuba quanto se livrar de Maduro. Para esse fim, intensificou
recentemente o embargo americano à ilha, inclusive permitindo que cidadãos
americanos processassem empresas européias e canadenses que fazem negócios com
o Governo Cubano.
A escolha crucial é dos comandantes do exército da
Venezuela. O desgoverno de Maduro não lhes oferece futuro. Ele esmagou a
economia, deixou o povo faminto, estrangulou a democracia e forçou mais de 3
milhões de venezuelanos ao exílio. A dificuldade está fadada a piorar com as
novas sanções americanas para o petróleo este ano. Os generais devem começar a
agir como patriotas. Eles precisam destruir o regime, antes que o regime os
destrua.
Artigo de Kaio Serra
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