Oito horas da manhã o despertador do celular grita. A garota que nasceu no século errado pega
seu aparelho, desliga o alarme, se levanta e começa seu dia. Enquanto toma seu
café, checa suas mensagens e as responde, quando sai de casa, coloca o fone de
ouvido e põe para tocar suas músicas. No caminho, o celular apita com um
lembrete de que no dia seguinte ela tem um compromisso.
É maravilhoso!
Em um
aparelho só ela tem um despertador, um calendário, uma agenda, um rádio, um
correio e pode se comunicar com seus amigos de forma rápida e objetiva.
O final de semana chega e A garota que nasceu no século errado está com saudade de seus amigos. Ela manda
uma mensagem no grupo do whatsapp e marca um encontro em qualquer lugar. O importante
para ela, na verdade, é a companhia, é o estar junto.
- Galera, vamos marcar algo para
hoje? Muito tempo que não nos vemos. Podem ir na minha casa. Saudades!
Mais tarde a galera animada chega
na casa da garota que nasceu no século errado e uma de suas amigas
imediatamente pergunta:
- Qual a senha do wifi?
Eles conversam, falam sobre a vida, as
novidades, riem, colocam música alta.
- Amiga, vamos dançar. Sai desse
celular. - A garota que nasceu no século
errado fala.
- Espera um pouco. O babado está
forte aqui.
A garota que nasceu no século errado fala sobre o seu dia com seu
namorado, o celular dele bipa, ele olha para o celular e começa a digitar:
- Fica comigo, amor. Sai desse
celular – ela pede.
- Eu estou contigo. Só vou enviar
essa mensagem aqui.
A garota que nasceu no século errado está num almoço de domingo com
a família:
- A comida está uma delícia – ela
elogia.
- han...?
-
A comida... larga esse celular.
- Deixa só eu terminar de ver
esse vídeo.
A garota que nasceu no século errado já não é mais uma garota e está
com seu filho:
- Filho, vai brincar na rua com
seus amiguinhos. Sai desse celular.
- Mãe, você é muito chata.
E é assim que o mundo vê quem anseia por mais contato físico do que virtual: uma pessoa chata.
E o que fazer se A garota que nasceu no século errado veio
ao mundo justamente no século da informação, das mensagens instantâneas e dos
emoticons? Resta-lhe conviver com isso e aceitar que o contato olho no olho
está acabando, que sentimentos são emoticons e emoções são status no Facebook.
Ela se sente como o Selvagem do
livro Admirável Mundo Novo, simplesmente não consegue se adaptar a essa geração.
Ela tem outros valores, outra maneira de conversar, outra maneira de interagir,
outra maneira de se relacionar.
A garota
que nasceu no século errado não é mais uma garota, ela é uma mulher e a
conclusão que ela conseguiu tirar disso tudo é essa: a internet aproximou quem
está longe, mas afastou quem está perto.
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