Nesta
semana, comemoramos a Proclamação da República, aos 15 de novembro. Esta é mais
uma data importante no calendário de feriados nacionais. Vamos relembrar que,
com maestria e heroísmo, Marechal Deodoro da Fonseca conduziu a mudança na
forma de governo no Brasil, que deixara de ser uma monarquia (que estava em
crise, sofrendo forte oposição e se demonstrando antiquada, atrasada, retrógrada,
não atendendo aos interesses populares) para ser uma República. Estávamos
livres da tirania do Imperador D. Pedro II para enfim abraçarmos a democracia e
o desenvolvimento.
Infelizmente,
caro leitor, as mentiras que acabei de contar são largamente ensinadas nas
escolas, em livros didáticos, sem que haja um debate bilateral e uma conexão
com a realidade da época e o atual cenário de crise brasileira.
Em
meio ao momento de profunda crise em que o Brasil se encontra, seja ela de
ordem política, econômica, social ou representativa, é impossível tentar
entender o que estamos vivendo hoje sem analisar e conhecer a nossa própria
história, o que faço nesta data para aproveitar o ensejo nacionalista.
Primeiramente,
entenda que crises não são novidade alguma na história do Brasil. Mensalões,
petrolões, ditaduras, coronelismo, “Sérgios Cabrais”, hiperinflação, assassinato
de prefeitos, ministros, são alguns dos incontáveis exemplos de fatos ocorridos
na história do Brasil. É chegada a hora dos brasileiros se perguntarem: O
Brasil sempre foi assim, um país suscetível à instabilidade de qualquer ordem?
Felizmente (ou infelizmente) a resposta é não. Houve sim um acontecimento que
foi um ponto de inflexão na nossa história, onde nós deixamos de ser um país
estável e com crescimento para sermos o país da crise. Este evento se chama
Proclamação da República.
Agora
sim, caro leitor, deixando a mentira de lado, vou lhes contar a verdade sobre o
dia 15 de novembro de 1889. A proclamação da República foi nada mais do que a
união dos interesses das elites cafeicultoras da época com o sentimento de
recalque de alguns militares. Os primeiros se sentiram profundamente prejudicados
com a Lei Áurea. Isto se deve ao fato de que o escravo era considerado
propriedade privada, além disso, ele era a força motriz da produção cafeeira,
que era o carro chefe da economia do período.
A intenção do Imperador D. Pedro
II era, após a libertação dos escravos, ceder a eles terras ociosas próximas a
vias férreas para que pudessem promover o cultivo de subsistência. Antes disso,
o Imperador, devido ao seu elevado preparo para a função de chefe de estado,
sabia que a abolição da escravidão de uma forma abrupta poderia gerar
consequências inimagináveis para a sociedade e para os donos de escravos. Por
isso, foram decretadas as leis do Ventre livre e dos sexagenários, numa
tentativa de abolir gradualmente a escravidão. Também era intenção do Magnânimo
promover a gradual industrialização do Brasil. Isto também desagradou às elites
cafeeiras visto que estas temiam perder poder político e econômico em um país
industrializado.
Nesta conjuntura, já não é mais surpresa que as oligarquias
cafeeiras prontamente se tornariam republicanas. Já o lado militar do ocorrido
se sentia desvalorizado pelo Imperador, se queixavam dos soldos e do pouco
reconhecimento após a Guerra do Paraguai. Os jovens oficias do Exército foram
“contaminados” pelo Positivismo, que se opunha ao antigo regime por
considera-lo um estágio a ser superado na evolução do homem pautada na ciência.
Tal pensamento filosófico fora fomentado por um professor militar da Academia
da Praia Vermelha chamado Benjamim Constant (soa muito atual essa história de
professores querendo ensinar ideologias aos alunos).
E onde estava o povo neste cenário?
Apenas um ano antes
da queda do Império, o povo estava comemorando a Lei Áurea pelas ruas do Rio de
Janeiro, na rua do Ouvidor, nas proximidades do Paço Imperial, no Cais do
Porto. O povo não queria a República, a população nunca “bateu panela” contra
D. Pedro II e sua filha, muito pelo contrário. Após a abolição, a popularidade
da Princesa Isabel se elevou ainda mais entre as camadas mais pobres.
Nem mesmo
o parlamento queria a República.
O partido republicano era nanico, sem força
política para mover uma palha diante de Visconde de Ouro Preto, Chefe do
Gabinete de Ministros (cargo semelhante ao de Primeiro Ministro). A ausência total
de participação do povo na mudança de sistema ficou marcada ao longo dos anos.
Basta comparar a forma como o povo comemora o 7 de Setembro em detrimento de
como nos comportamos no feriado de 15 de novembro. Muitos até mesmo confundem o
dia bandeira com o da proclamação da República. A monarquia está intimamente
ligada ao nascimento de um Brasil autêntico, às raízes brasileiras. Tanto é que
certas expressões, mesmo após a queda do império, ainda não saíram da boca do
povo como: “Dona”, ”meu rei”, ”barão” e o regime deixou marcas da proximidade
popular até hoje através das escolas de samba do Rio de Janeiro como Imperatriz
Leopoldinense, Império Serrano e etc.
Mesmo sem apoio popular, sem força política republicana no
parlamento, o Imperador fora derrubado e sua família exilada para a Europa sob
força militar. Sim, amigos, a própria Proclamação da República foi o primeiro
Golpe de Estado na História do Brasil independente. O exílio foi realizado na
madrugada porque os verdadeiros golpistas sabiam que haveria revolta popular no
Rio de Janeiro caso o Imperador fosse visto se encaminhando ao exterior a
força. O Imperador viu sua esposa morrer no exílio, assim como alguns amigos e
veio a falecer em Paris, num hotel de segunda poucos anos mais tarde. Terminava
de forma melancólica, digna de um drama, o período mais estável política e
economicamente da história do Brasil, onde asseguramos nossa unidade
territorial em meio a um mar de pequenas republiquetas, tivemos avanços como a
chegada do telefone, das ferrovias, libertação dos escravos; um sistema
eleitoral representativo; inflação controlada, crescimento econômico, uma moeda
forte, uma única constituição e o nascimento da nossa identidade nacional
autenticamente brasileira.
A partir de então, começamos a ver o nascimento de muitos
problemas com os quais hoje nos deparamos no Brasil. Com a proclamação da
Republica, houve o primeiro surto de favelização no Rio de Janeiro, pouco mais
tarde, o primeiro surto inflacionário com o Encilhamento, as compras de voto
com o Coronelismo, os golpes de Estado (7 ao todo), a censura e perseguição a
opositores com o Marechal Floriano Peixoto, as várias constituições (6 ao todo)
e as várias mudanças de moeda.
Não há dúvidas de que a proclamação da República
foi um dos maiores erros da história do Brasil.
Para finalizar, gostaria de deixar parte de um texto de
Monteiro Lobato chamado “A luz do Baile”, que mostra importância da referência
moral de D. Pedro II na sociedade brasileira:
“Pedro II era a luz do baile. Muita harmonia,
respeito às damas, polidez de maneiras, joias de arte sobre os consolos, dando
ao conjunto uma impressão genérica de apuradíssima cultura social. Extingue-se
a luz. As senhoras sentem-se logo apalpadas, trocam-se tabefes, ouvem-se
palavreados de tarimba, desaparecem as joias…”
Há o que comemorar no dia 15 de novembro?
Comemorar o golpe, talvez. Ou comemorar o nascimento de uma grande mentira que
nós repetimos como um mantra até hoje: O Brasil é o país do futuro. Como diria
D. Bertrand de Orleans e Bragança, bisneto da Princesa Isabel: “Não há um
brasileiro que diga de boca cheia que a República deu certo”
Artigo escrito por Joel Pereira Anastácio
Artigo escrito por Joel Pereira Anastácio